O Sonho que edificou nossa Entidade

Um brasileiro certa feita se manifestou:

“Se não houver frutos
Valeu a beleza das flores
Se não houver flores
Valeu a sombra das folhas
Se não houver folhas
Valeu a intenção da semente”

HENFIL, do livro Diretas Já

Fundado no ano de 1952, o hoje intitulado Sindicato dos Auxiliares de Administração Escolar do Estado do Rio de Janeiro resistiu brilhantemente aos obstáculos que lhe foram impingidos ao longo de sua existência, graças à garra e perseverança de uns poucos apaixonados pela causa, sendo certo que hoje agradecemos àqueles que se sacrificaram para que o sonho sonhado acabasse por revelar uma entidade moderna e combativa. Apesar de entendermos que em poucas linhas seja extremamente difícil, tentaremos retratar a envolvente construção desta notável entidade.

A ORGANIZAÇÃO

A história do sindicato é marcada ao longo de toda sua existência pelo desejo obstinado da categoria em se organizar. Para nos permitir narrar os fatos de construção do SAAE-RJ, será necessário retrocedermos no tempo em busca das verdadeiras raízes dos acontecimentos. A existência do sindicato confundir-se com a história de um grande companheiro chamado Oswaldo Mesquita, fundador e sócio nº 1 do sindicato, exerceu um papel fundamental na luta pela sua construção. Com o objetivo de unir os trabalhadores técnicos administrativos dos estabelecimentos de ensino em torno de um projeto por melhores condições de vida e trabalho, participou juntamente com outros também abnegados companheiros do movimento que fundou, no ano 1948, a Associação dos Auxiliares de Administração Escolar do Rio de Janeiro. Estava então gerado o embrião do nosso sindicato.

Este pequeno grupo de ativos profissionais do ensino, visando um passo a frente transformar a associação em sindicato, passou a se empenhar pelo seu reconhecimento junto ao Ministério do Trabalho. Lembra o companheiro Mesquita que foi extremamente traumático este processo, porque patrões, resistentes às mudanças anunciadas, reprimiam fortemente o movimento, usando de todos instrumentos que dispunham, inclusive a temida e cruel demissão de lideres sem justo motivo.

As condições de trabalho à época eram extremamente precárias. Baixíssimos salários, direitos trabalhistas inexistentes, e, como se não bastasse, a legislação fascista imputava ao movimento sindical um atrelamento ao Estado que engessava qualquer iniciativa progressista.
Emocionado em seu depoimento, continua lembrando o companheiro Mesquita, que foi uma fase dura, mas a classe soube resistir e seguir em frente em seus objetivos e ideais.

CARTA SINDICAL

De Direito, requereu-se a investidura sindical ao Ministério de Estado de Negócios e Trabalho e Indústria, sendo assinada a carta em 26 de janeiro do ano de 1952. Estava criado então, de fato e de direito, o Sindicato dos Auxiliares de Administração Escolar do Rio de Janeiro.

SEDE PRÓPRIA

Seu primeiro endereço, como bem lembra nosso aguerrido companheiro Mesquita, foi em uma modesta sala na Rua da Constituição, Praça Tiradentes, que logo depois foi transferido para a Rua Evaristo da Veiga, dividindo as dependências com o Sindicato dos Empregados em Empresas de Transportes Rodoviários do antigo Estado da Guanabara. Em pouco tempo, o sindicato mudou-se para a Rua Bueno Aires, iniciando uma campanha pela compra de sua sede própria. Nos primeiros anos da década de 70, foi possível a aquisição de duas salas no prédio situado à Av. Presidente Vargas, onde foi possível se instalar um parque gráfico para composição e impressão de nosso próprio material, além de um moderno laboratório fotográfico.

A quimera repressão patronal visando frustrar o avanço reivindicatório, chegava as raias de proibir que seus empregados se sindicalizassem, na tentativa de impossibilitar a contribuição destes para manter a entidade funcionando. Através deste engenhoso artifício, os patrões submetiam o sindicato a um cruel martírio, vez que, compromissos, estatutários, institucionais e constitucionais, não podiam ser realizados.

Nesta conjuntura, impulsionados exclusivamente pelo idealismo, alguns colaboradores juntamente com a diretoria, tentavam desesperadamente prover com recursos próprios o caixa do sindicato para fazer frente às despesas mínimas necessárias ao seu funcionamento.

EXTENSÃO DE BASE

Em meio a todos estes acontecimentos, em 14 de abril do ano de 1961, através da Portaria MTBS nº 66/60, o sindicato passou a denominar-se, Sindicato dos Auxiliares de Administração Escolar do Estado da Guanabara, e, em 5 de outubro do ano de 1965, o Ministério do Trabalho e Previdência Social, atendendo a um requerimento do próprio sindicato, consubstanciado no processo MTPS nº 114/58/64, lhe concedeu a extensão de base, passando em conseqüência a denominar-se, Sindicato dos Auxiliares de Administração Escolar do Estado do Rio de Janeiro e Espírito Santo.

INTERVENÇÃO NO SINDICATO

Ao longo do tempo, problemas de ordem administrativa e financeira, motivaram o então poderosíssimo Ministério do Trabalho através de sua Delegacia Regional decretar intervenção no sindicato, retirando do comando, os legítimos representantes da categoria e nomeando uma junta de interventores. Este cerco totalitário indisfarçável,não diminuiu o entusiasmo da militância que abraçou a empreitada de virar esta infeliz pagina de nossa história. Foram anos negros, mas o sindicato resistiu. Esgotada a indesejável intervenção, elegeu-se uma nova diretoria.

SEDE PRÓPRIA ATUAL

Mais tarde, no ano de 1976, com a colaboração maciça dos associados, adquiriu-se da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Indústria um novo conjunto de salas na Rua dos Andradas e para lá o sindicato se transferiu com toda sua estrutura administrativa, onde funciona até os dias de hoje.

O VERDADEIRO ESPÍRITO SINDICAL RETORNA

Anos se passaram, e a diretoria do sindicato, apartada dos objetivos primeiros da entidade, entra em rota de colisão com a categoria. Nos meados do ano de 1981, um grupo de jovens, liderados pelos companheiros Elles Carneiro Pereira e João Luiz Pinto Guedes Botelho de Souza, dispostos a ver seu sindicato focado na valorização do capital humano, e, descrentes da entidade que os representava, decidiram por resgatar os verdadeiros valores da instituição. A partir daí, deu-se início à composição de chapa para concorrer em oposição aos então mandatários da entidade. Dentre os integrantes deste grupo, destacaram-se os companheiros, Celso Cruz, Josué Barbosa, Lourival Novaes da Silva, Luis de Oliveira Nery, Leni Augusta dos Santos, Silvio Fonseca Chicarino, Romilda de Oliveira Silva, Maria Aparecida Alves e Jorge Pinto Ferraz.

Eleitos, e sob o comando do companheiro Elles, este novo grupo fez ressurgir uma entidade vestida de esperanças e crenças num futuro melhor, voltada contra as desigualdades de direitos e renda. Além do embate corporativo capital X trabalho, o sindicato se abriu para os problemas nacionais e internacionais dentro de um ambiente democrático e regido por normas éticas e profissionais.

Estas lideranças ganham relevo no ano de 1983 pelas mobilizações acontecidas, registrando-se de forma memorável a realização de uma assembléia que contou com a participação histórica de mais de 1500 auxiliares, demonstrando a aceitação e engajamento da categoria na linha de combatividade do novo sindicato que surgia. Atento aos acontecimentos nacionais, e, dentro de sua nova vestimenta, o sindicato apóia irrestritamente a campanha histórica pelas “Diretas Já”, que, para o conhecimento dos mais jovens, foi um histórico movimento civil por eleições diretas à presidência da República de nosso País.

No caminhar, adicionou-se a massa crítica em formação o fermento da consciência social ampla, atraindo de vez a participação ativa de eminentes companheiros do quilate de: Josevan Mota da Silva, Luis Fernando da Silva, Hélio José Lima Pena, José Vitório Cardoso da Silva e outros como, Carlos Alberto Figueiredo, Vera Lucia de França Gonzaga, etc…

UNIÃO SINDICAL

A partir daí, bastante fortalecido, o sindicato amplia seus sentimentos corporativos buscando se relacionar com outras entidades coirmãs. Nesta ocasião, no Brasil existiam três sindicatos de auxiliares de administração escolar, os mais antigos pela ordem eram: São Paulo, Rio de Janeiro/Espírito Santo e Belo Horizonte. Existiam além dos sindicatos citados, já reconhecidas, quatro associações profissionais, eram elas: Porto Alegre, São Leopoldo, Ijuí e Brasília-DF. Imbuídos por ideais, uniram-se a nós o sindicato de Belo Horizonte, com o propósito de levar aos demais companheiros de todo o Brasil a idéia de criamos a Federação Interestadual dos Auxiliares de Administração Escola (FIAAE), e para tanto, os dirigentes, autorizados que estavam por assembléias, passaram a visitá-los. Infelizmente, embora tenhamos enriquecido nossas convicções, não se concretizou o sonho por inúmeros fatores que não conseguimos superar. Contudo, o SAAE-RJ, se orgulha de ter, juntamente com o SAAE-MG, atuado decisivamente para transformar as associações existentes à época em sindicatos, hoje grandes sindicatos, não só pela estatura mas também pela qualidade de seus dirigentes.

Não satisfeito com o resultado desta caminhada, passamos a liderar um movimento no Estado do Rio que acabou por criar a Federação dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino do Estado do Rio de Janeiro, a qual englobava, em sua representação, auxiliares de administração escolar e professores. Disto surge a FEETERJ, uma instituição independente e democrática, sendo o seu primeiro presidente o companheiro Elles Carneiro Pereira, auxiliar de administração escolar que a administrou com temperança e sabedoria por dois mandatos consecutivos, chegando a federação a contar em sua administração com 100% dos sindicatos da base filiados.

Enquanto isto, a atuação da equipe que se formou no sindicato, além de incrementar a luta pelos direitos específicos da categoria, alavancava, ou melhor, revolucionava a organização administrativa, implantando e implementando inúmeros serviços de suporte em todas as delegacias do sindicato, interiorizando definitivamente a atividade sindical, tratando igualitariamente a totalidade dos auxiliares do Estado do Rio de Janeiro. Neste ritmo, adquiriu-se no ano de 1989, nossa sede campestre, localizada em Parada Angélica.

Através de seminário interno, objetivando promover mudanças de modernização estruturais e estatutárias, se redefiniu novamente a denominação e a base territorial do sindicato. A categoria, num gesto de grandeza, opinou por incentivar e promover a criação de um sindicato de administração escolar próprio e independente para o Estado do Estado do Espírito Santo, objetivando precipuamente aperfeiçoar o atendimento aos companheiros daquela base e, em consequência, o sindicato passa a denominar-se Sindicato dos Auxiliares de Administração Escolar do Estado do Rio de Janeiro.

COMBATIVIDADE

É importante registrar, para deixar demonstrado a combatividade da categoria, a memorável campanha salarial que se deu no ano 1990. Apesar de enfrentarmos à época uma conjuntura econômica extremamente desfavorável, o empenho e organização garantiram conquistas meritórias, destacando-se entre as sucessivas mobilizações: a greve do 3º grau no Município do Rio de Janeiro, a greve do 1º e 2º graus de Niterói, a greve de São Gonçalo, a greve do Sul Fluminense, e outros que embora não tenham se traduzido em greve, foram vitoriosos pelos direitos conquistados como exemplo: Convenção Coletiva do 1º e 2º graus do Município do Rio de Janeiro, 3º grau do Estado do Rio, Acordo Coletivo da Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ. Este último garantiu aos servidores daquela casa entre inúmeros outros direitos: ganho real de salário de 13%, estabilidade no emprego, auxílio alimentação, auxílio creche, etc…Costumávamos ao invés de chamarmos de “Acordo”, chamávamos de “Tratado”, em virtude da qualidade e quantidade dos Direitos ali conquistados.

Em meio a toda esta efervescência, nos deparamos com o impeachment do então primeiro presidente do Brasil eleito pós-ditadura. Marcado pelo tom emocional, a mobilização repeliu fortemente o chamado esquema PC que ao final se provou ter beneficiado integrantes do alto escalão do governo e o próprio presidente. Engajados no movimento de primeira hora, nos debruçamos sobre o tema e apoiamos com vigor a legalidade.

Ao final do ano de 1992, já com os estatutos reformado, nova eleição para renovação da diretoria foi realizada, sendo reconduzido ao cargo de presidente o companheiro João Luiz, que já tinha dirigido a instituição por três anos, lhe foi confiado um novo mandato de quatro anos. Ao final, passa o comando ao companheiro Elles, ficando este a frente da entidade por dois mandatos sucessivos.

Com a proposta de dar continuidade à vitoriosa trajetória, e ojetivando oxigenar o compromisso de representar ainda melhor a categoria, o companheiro Elles convida Jorge Meneses a assumir o leme da entidade em dezembro do ano de 2002.

Jorge Meneses, que iniciou sua militância sindical em 1986, como membro da Comissão de Negociação da Associação de Funcionários da PUC-Rio (AFPUC), em virtude de sua atuação em inúmeros movimentos da categoria, já integrava a diretoria do sindicato como suplente da executiva.
Segundo Meneses, que assumiu a entidade com o desafio de prosseguir à luta pelo aperfeiçoamento da organização, o ponto alto de seu mandato à frente da entidade foi manter a deferência com que os ex-adversos hoje nutrem pelo sindicato, via de regra, pelo alto nível com que acontece os embates reivindicatórios, sem fugir dos princípios que norteiam a ética, a moral e principalmente os ideais da categoria.

A história do SAAE-RJ, não se restringe à evolução de sua estrutura administrativa, e sim a um somatório de fatores a acontecimentos que nos permitiram acumular conquistas invariavelmente relacionadas com a inserção do ser humano no mundo do trabalho.

Neste sentido, e por absoluta convicção, acreditamos que nós trabalhadores somos capazes de transformar nossas vidas rumo a plena cidadania através do trabalho, podendo, para tanto, usufruir desta pederosa ferramenta que se apresenta à sua disposição, “O SINDICATO”.